quarta-feira, 8 de outubro de 2008

SOU BAIANO

SOU BAIANO> > > >
Nizan Guanaes

Quando eu conheci Jorge Amado em Paris, ele me levou para almoçar num bistrô perto do seu apartamento no Marais.> > Ao longo do caminho, fiquei pensando em algo bem inteligente para impressionar o grande escritor.> > Ao sentarmos à mesa ele disparou:> > - Nizan, você já reparou como a bunda da mãe Cleusa é grande?> > A Bahia é assim. Desconcertante. Pense num absurdo, multiplique por dois: na Bahia já aconteceu.> > Há, em Salvador, uma casa funerária que se chama Decorativa e uma companhia de táxi aéreo que se chama BATA (Bahia Táxi Aéreo).> > É dentro deste espírito esportivo que a Bahia surpreende desde 1500.> > Caetano Veloso me disse rindo que os baianos e os judeus se julgam raças eleitas e (sic) que ambos têm razão.> > Se somos ou não raça eleita, há controvérsias. Mas que é uma raça privilegiada não há dúvida. Castro Alves, Rui Barbosa, Jorge Amado, Assis Valente, João Gilberto, Caetano, Gal, Gil, Betânia, Daniela Mercury, Glauber Rocha, Dorival e Nana Caymmi, Raul Seixas, Ivete Sangalo e agora Piti.> > Não pode ser coincidência. E não é.> > É fruto da energia que o índio enterrou e que o português descobriu misturado com o axé que o negro trouxe.> > É essa energia que buscam os cansados, os estressados, os sem esperança, os de alma ou cadeira dura.> > E a Bahia os escolhe com sua graça e sua benção.> > Dianne Vreeland diz, na peça Full Gallop, grande sucesso na Broadway, que o azul mais bonito é o céu da Bahia.> > Tudo na Bahia tem luz, sobretudo as pessoas.> > Que em sua simplicidade, com sua fé, com suas peles negras e dentes alvos, dançam, cantam e iluminam um mundo rico, mas cada vez mais pobre.> > Um desses endinheirados, mas pobre de espírito, certa vez resolveu pegar no meu pé, numa festa, e me perguntou:> > - Se a Bahia é tão boa, porque você não mora lá?> > O Orixá me ajudou e eu respondi na lata:- Porque lá não me destaco: todos são baianos.>